domingo, 13 de julho de 2008

Robins dos Bosques

No texto de há uma semana (6/7) referi o que considero ser escandaloso e ofensivo - a remuneração do Presidente do CA da TAP e a sua evolução em tempos de crise.
Sobre o mesmo assunto julgo valer a pena reproduzir algumas passagens do que escreveu, no Jornal "OJE" do dia 11 de Julho, José Sousa Monteiro - Director da Escola de Ciências Aeronáuticas da Universidade Lusófona.
Com a devida vénia eis o que diz JSM:

"1- ...na TAP há diferenças salariais tais que um responsável aufere por ano praticamente cem vezes o de outro colaborador, ou seja, há quem receba 1,2 milhóes de euros/ano o que significa cem vezes mais do que quem aufere 12 mil/ano. É chocante, não é verdade?
2- Uma pessoa que aufere cem vezes mais que outra, ambas trabalhando para o mesmo "patrão" Estado, deverá sentir-se o quê? Porventura um ser muito diferente, eventualmente provindo de outro planeta e possuidor de dons incomparáveis e inacessíveis entre os "terrenos".
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3- Tudo isto num grave momento de crise nacional e do alastrar da pobreza...
O salário médio em Portugal é de 830 euros, isto é, 11.616 anuais. Os números indicam, desde há muito tempo, que Portugal é o País com maior desigualdade salarial e com salários mais baixos dos países da União Europeia, excluindo alguns de recente entrada. Mas ao mesmo tempo Portugal também é o País onde os administradores de empresas têm os salários mais elevados!
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5- ...A concertação laboral na TAP , visando redução de custos, deverá conter em primeiro lugar o exemplo vindo de cima.... Sacrifícios não podem ser só para os outros."

É certo que estamos perante uma empresa pública o que nos "dá" mais direito a criticar. Mas não podemos ignorar o que se passa noutras empresas coma a GALP, a EDP e a PT (entre outras) que, enquanto vão distribuindo dividendos de miséria aos seus accionistas (para inúmeros pequenos accionistas o dividendo é a única remuneração esperada) e vêem cair a pique as cotações dos seus títulos em bolsa, pagam chocantes remunerações aos seus administradores.
E que dizer das chorudas indemnizações "sacadas" pelos responsáveis do BCP nos recentes processos de cessação de funções?

Somos assim levados a pensar que em Portugal não é precisa apenas uma lei Robin dos Bosques. Portugal precisa, mesmo e urgentemente, de muitos Robins dos Bosques que actuem com coragem e não de forma "enganadora" e "envergonhada" pedindo esmolas aos ricos!

1 comentário:

  1. Teixeirinha:
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    O poder económico continua a ter muita "força", mesmo quando paradoxalmente o Estado é patrão. Há sempre um "mas". E geralmente esse "mas" também passa pelas indmenizações. Veja o caso do sr. que esteve na ERSE. Veja-se o caso do Mexia, aumentou-se a ele próprio mais de 100% ("eixo do mal" de ontem). Veja-se o caso do Macedo e também deste Pinto, referido no post.
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    Casos há em que os visados são mesmo muito competentes, sobretudo os dois últimos mencionados ( "máquina fiscal" e a própria recuperação da TAP). Mas será que não há outros?! Parece que não...
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    O poder económico e as corporações têm muita força e quando os governos querem tomar decisões tipo "rompe ou rasga", são as próprias oposições a defenderem, obviamente por motivos oportunistas e/ou eleitoralistas ou pela sua "clientela" partidária, o que é moralmente indefensável!. Como podes ver, pelo desenrolar destes últimos acontecimentos, o que era ontem válido, hoje deixou de o ser.
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    Assim vai o país e assim não se vai a lado nenhum! Como diria o António Guterres " É a vida..."

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