domingo, 12 de novembro de 2006

Como se deixa de ser “um ilustre desconhecido” – pequena história

Corria o ano de 1970, em Luanda, o BCCI festejava o seu 5º aniversário. Como era habitual nestas circunstâncias, os grupos desportivos dos bancos organizavam programas variados para as respectivas comemorações. O BCCI não fugia à regra e convidou o grupo desportivo do nosso BCA para participar num torneio de “tiro aos pratos”.

Houve uma certa atrapalhação nas nossas hostes, por não sabermos se havia alguém que praticasse o referido desporto, mas não poderíamos deixar de participar, uma vez que tínhamos sido convidados e nunca deixámos de corresponder afirmativamente aos convites que nos eram feitos. À priori não havia praticamente muita gente disponível que “dignificasse” a presença do BCA, nesta modalidade de tiro.

Lembraram-se então de quem? do Borges Lopes, que, anteriormente tinha participado em vários torneios de tiro ao alvo com resultados satisfatórios.

Fiquei atrapalhado porque nunca tinha disparado uma caçadeira, quanto mais atirar aos pratos! Depois de várias conversas lá me convenceram a participar, pois tínhamos que defender o BCA com a nossa presença.

Numa tarde magnífica, lá estava eu com os meus colegas, e outros bancários, no Clube dos Caçadores de Angola em Luanda. Nunca tinha lá entrado. Óptimas instalações, mas o que mais me impressionou foi a paisagem inesquecível dos largos horizontes sobre o Atlântico.

Nunca tinha visto tanta gente tão bem “artilhada” com tudo o que havia do melhor: espingardas luzidias, cartucheiras de cabedal envernizado, casacos de camuflado com muitas algibeiras e sobretudo almofadados nas zonas dos ombros (!?)

Ali estava o Borges Lopes, vestido normalmente, com uma daquelas camisas fresquinhas “casca de ovo” ditas de Macau, pois o dia estava quente como habitualmente. Já ia “acagaçado” e depois deste espectáculo, fiquei pior. Pensava: “onde me fui meter?”.

Enfim, já recomposto deste primeiro embate, obviamente com ajuda dos nossos colegas que me acompanhavam, fui chamado para os disparos.

Um colega nosso emprestou-me a sua caçadeira. Como não estava habituado a pegar numa arma destas, achei-a pesada como “chumbo”. Aconselhou-me a encostá-la bem ao ombro, por causa dos coices, e lá vai…

Talvez por sorte e também um pouco de treino de “tiro intuitivo” aprendido em Mafra, mas, felizmente, nunca aplicado na realidade, não é que parti 17 pratos num total de 20 ?!.

Como era habitual nestas coisas o melhor atirador da sessão anterior, era juiz na sessão seguinte. Passaram-me para a mão uma buzina para tocar quando o atirador acertava ou não acertava no prato, já não me lembro bem como a coisa funcionava. Mais nervoso e atrapalhado fiquei. Parece-me até que beneficiei alguns concorrentes, porque se fosse ao contrário teriam reclamado… Mas não houve problema.

No fim do torneio, este vosso amigo ficou no primeiro lugar individual e contribuiu para que a equipa do BCA ficasse em terceiro.

Na distribuição de prémios recebi a taça que até hoje a conservo religiosamente, conforme a foto abaixo.

Na despedida, de passagem, ainda ouvi alguns murmúrios: Quem é este indivíduo que chegou aqui completamente “desartilhado”, e acabou por vencer este torneio ?

Pensei cá para os meus botões: é o Borges Lopes do BCA, e acreditem, independentemente de algumas nódoas negras no meu ombro direito, a partir daqui, tanto eu, como a equipa do Banco que representava ganhámos alguma notoriedade!

Deixei de ser um ilustre desconhecido passando a gozar, involuntariamente, de alguma fama, certamente efémera, dentro dos melhores atiradores bancários de “ tiro aos pratos” de Angola.


Um abraço a todos, sobretudo para aqueles que tiveram a paciência de ler esta pequena história!

B.L.

3 comentários:

  1. Borges Lopes,
    Muito interessante esta pequena história.
    Fico a pensar quem terá nascido primeiro, o "informático" ou o "atirador" ?
    A propósito, como é que está a louça lá de casa ???

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  2. A propósito de louça, fui hoje jantar com um grupo de amigos, ao restaurante do filho da Ilda.
    "Conventual D. Luís" - Damaia de Baixo, muito perto de minha casa.
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    Bem, nem calculam o bom que foi!
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    Picanha com frutas; arroz de tamboril; arroz de garoupa com camarão; cataplana de cherne; costeleta de novilho no carvão; Sobremesas de sonho; música de fundo. Tudo uma maravilha.
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    E os preços?! "Não tenho pais ricos mas também não foi preciso ir ao BES"! Os preços são, direi mesmo, muito acessíveis e a qualidade é óptima.
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    Eu informei o Luís ( filho da Ilda ) que ia publicar no nosso blog um grande e merecedor elogio ao seu restaurante.
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    Apesar de tudo, no fim, não me fez nenhum desconto! Vá lá a gente compreender esta juventude!
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    Agora, falando a sério: temos que combinar para breve, para lá, uma grande almoçarada! Sinceramente, por todos os motivos, merece a pena!

    B.L.

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  3. Tendo sido do BCCI-Luanda não posso deixar de vir "ouvir" as vossas estórias.

    Um abraço a todos

    JoaquimdeLisboa

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