terça-feira, 14 de novembro de 2006

A VIDA É UM TEMPO SEM TEMPO

Inspirado pelo poeta que mais filosofou sobre a Vida, aqui reapareço no blog (excelente ideia!) dos ex- BCA's, acedendo a um convite irrecusável do Amigo António B. Lopes. Espero não defraudar as expectativas da Severa, Ilda, Julieta e dos demais Companheiros e Companheiras de um tempo de vida que a todos nos envolveu. Definitivamente.

Porém, antes de revisitar memórias partilhadas - o que reservarei para outras crónicas - peço licença para vos trazer uma síntese do meu percurso profissional em Portugal, reportado aos tempos da viragem do século. Dobrem, pois , as folhas do calendário e detenham-se em 1976 e tempos sucedâneos. Arrumo os factos cronologicamente, como convém:

1976 - Regressado em finais de Setembro de 1975, logo recusei o (re)ingresso na banca ( G3 era a classe/nível para a retoma da actividade, lembram-se? ), dando disso nota - em carta frontal e com alguma relevância para os tempos que corriam - ao então Secretário de Estado do Tesouro...curiosamente meu Presidente 25 anos depois. É assim a vida. E eram esses os tempos.

1976-1978 - Fiel à minha decisão de recusar ignomínias, por sempre entender que os bancários regressados de Angola tinham iguais ou superiores competências aos bancários instalados, ingressei na Compave, empresa de promoção imobiliária, cujo Presidente era ( imaginem ! ) o Dr. Nunes da Glória, nosso antigo Director Geral, que apresentou a minha candidatura à prévia anuência da Comissão de Trabalhadores...Inteligente, como sempre o reconhecemos, o Dr. Nunes da Glória ( falecido em 2006 ) iniciou a reunião com a CT e saiu da sala estrategicamente, poucos minutos depois, deixando-me perante sete "brilhantes" cabeças, convencidas de importância nenhuma. Meia hora depois, estava admitido como Chefe dos Serviços Comerciais e por lá me mantive até 1978, com a CT e os restantes 40 colaboradores da Empresa quase transformados em amigos de peito.

1979-1996 - Em finais de 1978, a nossa querida Amiga, Severa Álvares T. Almeida, surpreendeu um anúncio num jornal dito "de referência" para as funções de Chefe do Serviço de Relações Públicas de um Banco. Telefonou ao "chefe", como carinhosamente me tratava, viva, grata e interessada como sempre. Com alguma relutância, acabei por responder ao anúncio. Um longo e exigente ( como inesperado ) concurso, plasmado em bastas provas e 6 meses ( !!! ), ao lado de 40 concorrentes da banca e da indústria, muitos deles especialistas noutras artes...

Em Março de 1979 - por concurso público e não caindo de "paraquedas"- aterrei no Banco de Fomento Nacional, onde reencontrei três ex-Colegas do BCA: o Manuel Marques dos Reis ( lembras-te, Joaquim Amaral ? ), que chegou-por mérito próprio- a Subdirector, o Abel Carvalho e a Maria Helena, que esteve no BCA-Lobito. Os dois últimos, anos mais tarde, transferiram-se para outros bancos emergentes e perdi-lhes o rasto. O BFN ( depois BFE ) foi assim a minha 2ª. escola profissional, já que a 1ª. é propriedade moral do BCA. Subdirector, Director desde 1992 e Director coordenador de Comunicação e Imagem do Grupo BFE ( que incluía o centenário Banco Borges e uma mão cheia de Participadas estratégicas )- eis a minha carreira ao longo de 17 anos.

1996-2004 - Adquirido o Grupo BFE pelo Banco BPI, em controverso concurso público, cedo verifiquei que, aos 58 anos e originário do Banco opado, estaria destinado a aceitar o logro de uma miseranda reforma antecipada ou...lutaria, num desgastante jogo de sombras, para defender os meus direitos. Foi o segundo grande combate da minha vida: saí do Banco apenas em 2 Novº. 2004, ao perfazer 65 anos, desiludido com uma gestão arrogante mas devidamente ressarcido, em sede própria, de todos os danos patrimoniais e morais.

Esse foi, como calculam, um outro "tempo sem tempo", mas prevaleceu o valor da dignidade. Descobri que o amor próprio não fenece com a idade, antes se refina. O Marques dos Reis trilhou o mesmo caminho e venceu, numa luta paralela que só o valorizou, como homem, profissional e jurista ( licenciou-se, ao serviço do BFE ).

2004-2006 - Depois de alguns meses de descanso ( e viagens ), entendi que devia ocupar o meu tempo sobrante de 3 fantásticos Netos na actividade editorial e como Consultor/formador na Área da Comunicação Empresarial. E, como acontece normalmente a quem se realiza noutros campos, espero reservar interesses e disponibilidade para actividades de cariz social, numa postura de solidariedade que, aliás, sempre mantive com os que me rodeiam. Em Angola, como em Portugal.

Não vejam nesta resenha autobiográfica a menor sombra de auto-satisfação, sequer de afirmação pessoal. Mas há confidências que só se fazem aos Amigos.

O texto, escrito ao sabor do razão e não das emoções, vai longo. Serei mais contido nos próximos contributos, que abordarão factos, pessoas e lugares bem mais interessantes para a Família BCA.

E sendo "a vida um tempo sem tempo", façam o favor de não "lagrimar" ( Mantorras dixit ) e sejam felizes.

Um grande abraço do

Luís Teixeira da Mota

4 comentários:

  1. Teixeira da Mota,

    Eu estava atenta...
    Sinto que isto foi apenas a "ponta do iceberg"
    Fantástico como sempre!

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  2. Mas que pinta!
    A propósito, não agradeci as simpáticas referências.
    Nem sei se as mereço...
    O mérito foi todo do chefe que soube ser!

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  3. Olá Luis,

    Temo-nos encontrado algumas (poucas) vezes e nelas recordando os bons velhos tempos do BCA.
    Já não sabia nada de ti desde o verão passado e folgo por saber que se bem percebi já resolveste os teus diferendos com o Banco.
    Espero poder ver-te breve.
    Um abraço
    Chilócas

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  4. Amigo Teixeira da Mota



    Que bom é ver-te junto desta Família, que vai crescendo a olhos vistos.
    Deves lembrar-te de mim, que estava na Contabilidade, vindo de Malanje e comecei a fazer, juntamente com o Simões, as escolhas do traçado do nosso Rallye. velhos tempos...



    um abraço

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