domingo, 14 de janeiro de 2007

Estudante-trabalhador? Ou trabalhador-estudante (2)


No meu anterior “post” com o título acima, e onde relatei um pouco do que era o trabalho no BCA, terminei com a seguinte afirmação: Naquele tempo, na verdade ainda não havia Estudantes-trabalhadores. Eu e outros colegas éramos, Trabalhadores-estudantes!

Esta minha afirmação deixou, desde logo, em aberto a oportunidade de voltar a escrever sobre o assunto, como se deduz da numeração do próprio título.
Na minha vida profissional já depois do regresso a Portugal, tive muitas vezes que autorizar “ausências ao serviço” de estudantes-trabalhadores ao abrigo de legislação que lhes conferia tais direitos. E muitas vezes me pus a mim próprio a questão de saber se se trata de estudantes-trabalhadores ou trabalhadores-estudantes. Ou seja, qual a sua principal qualidade: a de estudante ou a de trabalhador?
Bem sabemos como é importante a formação académica e por isso, devo dizer desde já que sempre fui acérrimo apoiante dos muitos colaboradores que tive e que eram estudantes-trabalhadores, como na verdade são tratados na legislação e na literatura.
E a muitos não deixei de estimular para que nunca desistissem. Mas sempre procurei estar atento a eventuais meros pretextos para mais uma “falta justificada ao serviço”.

Passo a relatar agora mais um episódio dos meus tempos de “trabalhador-estudante” ao serviço do ex-BCA.
Quando acabei o meu Curso Geral do Comércio, tinha já 19 anos. Com efeito, após a 4ª Classe e como acontecia com muitas das crianças daquele tempo, deixei de estudar aos 10 anos. Aos treze anos, fui para Angola (onde estava meu pai e meu irmão mais velho) e foi aí que retomei os estudos, começando por frequentar em Janeiro de 1958 o Colégio Académico, na Rua de Silva Porto - Bairro do Café (cuja proprietária e directora era uma excelente senhora a quem tratávamos por D. Angélica) para me preparar para o exame de admissão ao Ciclo Preparatório da Escola Industrial de Luanda.
Acabado o Curso Geral do Comércio prossegui os estudos que me iriam permitir ingressar no Curso de Economia da Universidade do Porto em 1966. Assim, durante três anos trabalhava e estudava à noite.
Foi então que um dia, nas vésperas de mais um exame, me dirigi ao meu chefe de secção, pedindo para me dispensar no dia seguinte.
A resposta não se fez esperar: não podia ser dispensado…mas ser-me-ia permitido sair uma ou duas horas mais cedo!
Como se fossem aquelas duas horas a solução para o meu problema?! Problema que na verdade era mais de receio, expectativa e angústia perante uma nova “prova de exame” do que o de ignorância da matéria. Mas, como sabemos, pensamos sempre que nunca sabemos a matéria!... E pior ainda quando o tempo para estudar no dia-a-dia era pouco!
Perante a resposta que me foi dada, no dia seguinte (dia do exame) compareci no meu posto de trabalho e, pura e simplesmente, saí à mesma hora de todos os dias (creio que era às 17 horas, de acordo com o horário normal).
O exame correu felizmente bem mas…no dia seguinte, por vingança, faltei ao serviço! Estava doente (!) de acordo com o telefonema que minha tia (que Deus tenha em eterno descanso) fez para o Banco.
E quando regressei ao trabalho, creio que com alguma ironia, me foi perguntado pelo chefe se estava melhor. Limitei-me a responder afirmativamente.
Era assim, a vida de um trabalhador-estudante no BCA. Mas, sem vaidade, posso afirmar que não deixava de ser um trabalhador dedicado. E apesar destes episódios (e talvez por causa deles), como sabem os ex-colegas, e como aqui já afirmei, estabeleceu-se entre mim e o Senhor A. Fernandes uma sincera e grande amizade que ainda hoje perdura.
Eram na verdade outros tempos!

1 comentário:

  1. Teixeirinha,
    Também não sei ainda hoje se é bem trabalhador-estudante ou estudante-trabalhador, mas temos de considerar que o Snr António Fernandes foi sempre um grande e bom colaborador do Banco, mas enquanto Chefe da Contabilidade, tinha muitas dessas atitudesIlda Simões, para demonstrar que quem mandava era ele, mas com o andar do tempo e a subida na sua hierarquia, foi lentamente modificando um pouco esse seu temperamento e hoje estou convencida que é uma óptima pessoa. Eu, pelo que trabalhei com ele nos últimos tempos na Secçao de Pessoal e Relações Humanas, consegui mudar a minha maneira de pensar a seu respeito.Ilda Simões

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