domingo, 14 de janeiro de 2007

Uma pescaria no atlântico em 1974

O Felizardo Loureiro, operador de computadores do centro de informática do BCA, tinha um tio, proprietário de uma traineira de pesca, que operava a partir do porto de Luanda.

Depois de várias conversas sobre pesca e pescadores, desde o comprimento dos peixes, até à quantidade dos mesmos (a maioria dos “pescadores” prima pela sobrevalorização destes dados), surgiu a oportunidade de dar satisfação à nossa curiosidade.

Combinámos, então, uma pescaria, entre os informáticos do BCA, com a necessária disponibilidade do tio do Felizardo, para nos proporcionar esta aventura.

Na data aprazada, um sábado de manhã, partimos do porto de Luanda, para o alto mar, a uma distância de cerca de trinta quilómetros da costa.

Cada um tinha a sua missão distribuída. A maior parte do grupo estava destinada à pesca propriamente dita, e eu tinha como missão especial tratar do almoço.

Desbobinaram os “aparelhos” lançando-os ao mar. Era assim que chamavam às linhas com os anzóis e os respectivos iscos. Convém que tratemos aqui as coisas pelos respectivos nomes, inclusivamente porque nos dá um certo ar “de entendidos” nestas artes da pesca.

Depois de feita a manobra necessária, e efectuarmos uma pausa, ficámos a aguardar que, ao longo do dia, o peixe picasse o isco, para finalmente se proceder à respectiva recolha.

O barco embalava-se docemente sobre as águas, em movimento pendular, ao sabor da fraca ondulação daquele dia.

Estava tudo a correr bem, quando, inusitadamente, se dá uma “baixa” na tripulação. Quem ? Precisamente eu! Habituado a ter os pés assentes na terra, fiquei horrorosamente enjoado:. tonturas, palidez, náuseas e, finalmente, vómitos. Enjoo era palavra que não constava no meu dicionário. Ainda me falaram nisso, mas qual quê… Enjoos, só para os fracos. As minhas únicas viagens de barco, tinham sido as travessias do Tejo, entre Lisboa e Cacilhas, onde nunca me tinha dado mal, mas aquele baloiçar lânguido no Atlântico, ao início muito agradável, deixou-me completamente de rastos.

No desespero, comecei a comer as laranjas, que estavam destinadas à nossa sobremesa! Comi-as todas e deitei-me longitudinalmente no chão do barco, a ver se a crise passava… Mas qual quê, cada vez se agravava mais! Tive que me aguentar; enquanto a pescaria continuava de vento em popa.

Para mim, foi um dia para esquecer pela má disposição, mas enriquecedor em termos de convívio e de recolha de conhecimentos sobre a vida no mar. Fiquei a saber, por exemplo, que o tubarão é um peixe oportunista, porque como tive ocasião de observar, os tubarões atacavam os peixes, para os comer, precisamente no momento em que estes eram içados para a traineira.

Os meus colegas da aventura, nada comeram da tal refeição que eu iria confeccionar, e nem sequer a uma laranja tiveram direito, no entanto, perdoaram-me, com o compromisso de na próxima vez não me propor para a importante missão de cozinheiro, e de trazer na bagagem alguns comprimidos de Vomidrine.

No dia seguinte, com algum do peixe apanhado, foram todos convidados a comer, em minha casa, uma caldeirada “à maneira”. Estava tão saborosa que não acreditavam ter sido feita por mim, mas foi! Foi a recompensa pela minha falha do dia anterior.



Pescaria no atlântico em 1974 -

Nota – As imagens do vídeo, além de serem poucas, têm muita pouca qualidade. Foram captadas de um filme “super8” que tem mais de 30 anos. Das pessoas que participaram nesta “aventura”, lembro-me do Veiga e do Felizardo visíveis nas imagens. Parece-me que está também o Agostinho, nosso colega, e o tio do Felizardo; das outras pessoas não me lembro. Obviamente que também lá estava eu, que apesar de enjoado, ainda consegui filmar estas poucas imagens, que serviram de tema a esta pequena história.

4 comentários:

  1. Caro António,
    A tua hemeroteca, mais a fototeca e o arquivo mental continuam a funcionar bem. Intercalar textos com movimento, cor e imagem é uma boa forma de animação do nosso Blogue. Juntemo-lhes uma ou outra história divertida com personagens reais da nossa vivência comum e os ingredientes ficam completos.
    Fica assim desculpado o teu dramático enjoo marítimo, que não filmaram porque tivesta a lucidez de não largar a câmara até atracar..
    Luís Teixeira da Mota

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  2. Por falarmos em pesca, vou contar uma "história" verídica, que me surpreendeu, por nunca tal me parecer ser possível.
    Passou-se no ano 2000 quando estive de visita a Luanda.
    Com uns amigos ali residentes fui passar o fim de semana ao Mussulo.
    E, no seu barco, resolveram presentear-me com uma pescaria. Assim, lá partimos, mar adentro, em direcção a Luanda. Canas a postos e o indispensável GPS. Entretanto, o nosso piloto e outro colega foram-me convencendo de que, no local previamente marcado no GPS teríamos peixe pela certa. No que eu sinceramente pouco acreditava. À aproximação começou a ontagem decrescente começando no habitual 10, 9, 8,...
    E chegado ao 3,2,1...seguiu-se um vai picar. E eis que se ouviu o desbobinar dos carretos das duas canas que seguiam na embarcação.
    Eram duas valentes Macoas das quais entretanto só uma foi içada para bordo tendo a outra conseguido escapar quando já estava quase fora de água.
    Fiquei surpreendido e, em jeito de provocação, disse: ah, "vão se lichar" foi mera coincidência. O Inácio não hesitou. Deu uma volta e passados instantes voltou ao ponto "zero". E de novo o peixe atacou. Era mais uma Macoa que desta vez se não escapou. E lá regressamos ao Mussulo com dois valente peixes pesando cada um mais de 25 kg, que foram oferecidos aos "empregados" dos donos da casa.
    Devo confessar que eu ainda tentei colaborar no recolher das linhas...mas era peso a mais para alguém sem experiência como eu.
    Rendi-me, obviamente, à evidência!

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  3. TEIXEIRINHA,
    aqui está mais uma história, no género da do Simões, contada nos comentários anteriores, só que esta foi c/o Teixeira da Mota e a outra c/o m/marido. Parece-me que o jeito deles, para as pescarias, são idênticas.
    Beijos para todos da Ilda Simões

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  4. Ao ver as imagens compreendi como me passou a febre da pesca ver numa linha tres e quatro peixes ainda por cima ver garoupas chernes cachuchos e outros peixes não é fácil voltar a pescar
    Boas Pescarias

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