domingo, 31 de dezembro de 2006

Caixa de Diálogo (2) - O Selo Branco Voador

Aviso prévio

A “Caixa de diálogo” assume desta feita a particularidade de um diálogo surdo entre o homem e a máquina, a um tempo insólito e divertido como convém a uma Passagem de Ano.

Recortei esta historieta, passada no BCA em 1970, de uma série de pequenas crónicas que, em tempos pouco recuados, escrevi a convite de um professor do Instituto Superior de Comunicação Empresarial – convite esse extensivo aos mais antigos profissionais de Relações Públicas do País – reportando extractos da minha vida empresarial que contivessem um fim pedagógico para os seus alunos.

Assim, para me situar perante leitores-estudantes, arredei um estilo sério e pseudo-magistral, conferindo ao texto um tom aligeirado e bem- humorado, apontado a uma máxima final com o “tal” sentido pedagógico.


Atentem, pois na história ( com fotografia a preceito ) em versão original e, com ela, subam por instantes ao 1º. Andar do Edifício-Sede do BCA, melhor dizendo à ampla e bonita sobreloja que abraçava o imenso hall das nossas memórias.

O SELO BRANCO VOADOR

A cena passa-se em Luanda, no salão nobre de um Banco. Um dúzia de dirigentes à volta da mesa, com ar formal e pose fotogénica, prepara-se para assinar importantes documentos, caucionadores de um convénio e da extensão das actividades financeiras ao exterior.

Este vosso amigo, jovem de vinte e tal anos, recém-formado nas lides das Relações Públicas, assiste, entre curioso e atento aos pormenores, convicto de que estava ali exactamente para resolver qualquer problema.

O documento-matriz circula, para recolha de assinaturas, entre os principais dirigentes e finaliza o circuito nas mãos do Vice-Presidente, que ocasionalmente tinha a seu lado o notário, o selo branco da instituição e, mais atrás, o jovem e atento R.P.
.
Simpaticamente ( ou desconfiado da operacionalidade do objecto ), olha-me e incita-me a autenticar o documento, concedendo-me o alto privilégio de accionar o martelo-pilão da máquina burocrática.

Usei de alguma força, é verdade, pois o documento merecia um belo selo, mas desconfio que exagerei um pouco, pois o “bicho” reagiu mal à pancada e deu um salto na mesa que ia atingindo o nariz do assustado dirigente.

Sem experiência na manipulação daquele tipo de máquinas, omitira o essencial: com uma das mãos deve segurar-se a base do aparelho e com a outra acciona-se o batente com uma pancada seca.

O meu ar comprometido de menino traquinas fez sorrir paternalmente os assistentes, porventura desconfiados de que o meu curso não incluira aulas práticas com selos brancos e objectos quejandos. Os mais compreensivos terão mesmo pensado: “Temos homem ! Energia não lhe falta…”

Nunca mais toquei num selo branco, que passei a considerar instrumento de tortura voador, a merecer repousar em qualquer museu de horrores.

Resta concluir, avisando os meus confrades: desconfiem das máquinas e dos seus efeitos colaterais; experimentem-nas dez vezes, de preferência em lugar discreto, antes de as usarem em actos públicos.

Luís Teixeira da Mota

4 comentários:

  1. Teixeira da Mota
    Não há dúvida que foi um segredo bem guardado!
    Ao ler a sua Caixa de Diálogo (2), saio a sorrir de 2006 e porque 2007 é o meu ano no calendário chinês desejo,do fundo do coração, que sorriam todos comigo por serem felizes.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Meu caro Teixeira da Mota,
    Como afinal ninguém saiu ferido por tão atrevido objecto, esta é mais uma história "gira" que nos faz recordar, a todos em geral, o que são os processos de aprendizagem.
    Felicito-te por mais um excelente texto. Aproveito para mais uma vez, agora já bem próximo do final do ano, desejar-te um Feliz 2007 extensivo a todos os colegas ex-BCA's

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  4. Luís,

    Bom Ano 2007, para Ti e para os Teus!
    Felicidades para Todos !
    Um abraço do

    BL

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