quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Estudante-trabalhador? Ou trabalhador-estudante? (1)

Já dei conta neste espaço de alguns dos primeiros momentos da minha iniciação profissional no BCA - o meu primeiro trabalho (sim... trabalho, mais do que emprego!).
Como então disse, comecei a trabalhar em 1963 naquela que foi a sede inicial do Banco e o seu primeiro "Balcão".
E relatei as "nossas" disputas para vermos quem era o mais rápido a manipular as máquinas mecanográficas.
Para melhor ilustrar o que era, então, o meu trabalho e o dos outros "operadores", reproduzo aqui o que li há dias no livro de "Joaquim de Lisboa" (também já por mim citado noutro texto) e que, a propósito das referidas máquinas diz o seguinte:
"...operar uma novíssima, mas muito barulhenta, máquina mecanográfica, da geração que antecedeu o uso generalizado dos computadores...". Estas máquinas mecânicas, eram de tal modo robustas que creio terem sido projectadas para serem operadas a ... murro! ... depois de introduzidos os dados...o desencadear dos cálculos e o seu descarregamento na ficha de cartão entretanto introduzida, era obtido dando uma seca pancada, com a mão em cutelo numa barra de desenho e robustez premeditada, para resistir ao ritmo de trabalho e aos humores do operador."
Ao ler as palavras transcritas revi-me novamente como operador na Contabilidade excutando centenas de lançamentos diários em contas correntes caucionadas. E lembro-me dos "momentos de mau humor" que algumas vezes me levavam a descarregar a má disposição com pancadas ainda mais fortes sobre a barra do "enter"; e não me recordo de alguma vez a dita barra ou a máquina, ela própria, se terem queixado!
E se se tratava de uma máquina defacto barulhenta, mais barulhenta se tornava quando era sujeita à tortura do operador. Imagimem, agora, pelo menos 6 máquinas, concentradas num pequeno recanto, a debitarem "decibéis". Acrescentemos a tudo isto o restante ruído produzido no rés-do-chão e no primeiro andar do Banco funcionando em "open space" , com excepção da secretaria e dos serviços de pessoal, e dos contíguos gabinetes da Direcção e da Administração.
E caras e caros colegas, garanto-vos que não era eu o único que por vezes tratava a NCR com menos meiguice. E tal acontecia, sobretudo, nos dias em que "talvez por cansaço" a mesma entrava em "coma", reclamando a precença do "técnico"...enquanto as malditas livranças, amontoando-se, continuavam à espera!
O trabalho era muito e cansativo sobretudo para quem, diariamente, no final de um dia de trabalho, rapidamente procurava sair porta-fora a caminho da Mutamba donde partia o Machimbombo (que não perdoava atrasos) que me levava ao Bairro do Café, onde ficavam a Escola Comercial Vicente Ferreira e o Instituto Comercial - deixando-me ainda a umas boas centenas de metros - para assitir a mais três ou quatro horas de aulas, que nunca terminavam antes das onze horas da noite. Naquele tempo, na verdade ainda não havia Estudantes-trabalhadores. Eu e outros colegas éramos, Trabalhadores-estudantes!

4 comentários:

  1. Na verdade, Ilda, trabalhar oito horas por dia agarrado a um "acordeon" daqueles, não era tarefa fácil.
    Mas hoje, quase tenho saudades.
    Borges Lopes ou Luís:
    As NCR tinham uma barra amovível e uma espécie de automáticos que distribuíamos ao longo da mesma e que determinavam os "pontos" de paragem e "formatavam" os dados inseridos.
    Certamente que se lembra do nome técnico dessas coisas. Ajude-me a recordá-lo pois não me ocorre tal nome (apesar de o ter...debaixo da língua).
    No fundo era com esses "apetrechos" que programávamos as ditas máquinas de acordo com as tarefas a excutar.

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  2. Teixeirinha:

    Não faço ideia do nome! Talvez por palpite:
    cavaletes; automáticos...
    Sinceramente não me recordo.

    BL

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  3. Inclinar-me-ia para "cavaletes" mas...no meus subconsciente "tenho a sensação de haver um outro nome".
    Ms também não importa...

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  4. Penso que estão a falar de uma máquina que eu também trabalhei
    O nome das ditas peças não me lembro só que tinha que afinar a barra com as ditas peças conforme os lançamentos

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