quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Mais uma mini-história do quotidiano Luandense “ Resposta ingénua a pergunta… ainda mais ingénua”

As flores de papel


Em determinada altura, em Luanda, foi moda a utilização de pequenas flores de papel colorido na decoração interior das casas.

A nossa, obviamente, não foi excepção. Também lá se fizeram algumas composições decorativas com as referidas flores de papel, geralmente adquiridas nas agências funerárias (?!).

Minha mulher, um dia, dirigiu-se a uma agência para comprar as ditas flores.

O empregado apresentou-lhe uma grande variedade, tanto em cores como em formatos.

Foi então que surgiu a pergunta ingénua “ Porque é que os angolanos decoram com tantas flores, e de cores tão garridas, os caixões dos seus mortos?!.

“ É para lhes dar mais vida, minha senhora”! Foi a resposta pronta e convicta do empregado.

Abraço a Todos

BL

3 comentários:

  1. Às vezes...as coisas mais simples são plenas de significado. E dar mais vida aos "caixões" tanto pode ser uma forma de prestar homenagem a quem parte como pode ser uma manifestação de opulência e vaidade dos que ainda por cá ficam.
    A segunda hipótese ainda hoje é uma presença frequente na escolha das "urnas", do "local" para o velório, do "carro funerário", etc., como se na morte não fôssemos afinal todos iguais! Ou será que até na morte somos diferentes? Que pensam os colegas sobre esta matéria?

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  2. Dr.Teixeira:

    Obviamente que a intenção é sempre enaltecer/avivar a memória/ homenagear (e outros adjectivos) em memória do falecido.
    .
    Muitas vezes os vivos (que cá ficam, claro) são vítimas da situação. Como "é a última homenagem", alguns Ag. Fun., sem escrúpulos, tiram partido do momento, "levando" as pessoas a inflacionarem despesas para as quais, por vezes não estão preparadas. Infelizmente é assim...
    .
    A situação aqui descrita, foi a resposta "seca" do empregado.
    .
    Claro que se entende o sentido.
    .
    Um abraço
    BL

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  3. Amigo Borges Lopes,
    De acordo. E na morte somos ou não todos iguais? Que lhe parece?
    Costuma dizer-se, muitas vezes que F... ou S... teve uma morte santa, quando faleceu de morte súbita e "pensam os vivos" sem sofrimento.
    Mas a morte encerra sempre, pelo menos para os cristãos, momentos de angústia, de tristeza, de saudade e também de fé.
    Mas eu acho que também na morte somos diferentes. Há na verdade os que vemos sofrer dolorosamente até que chegue o último suspiro. E no seu sofrimento são muitos os que aceitam a morte como "vontade de Deus" porque apesar de tudo têm "fé" e acreditam que "Deus assim quiz". Mas nem sempre assim acontece, e conhecemos também casos em que quem sofre não deixa de expressar a sua revolta, decidindo muitas vezes por fim á vida em situação extrema de dor e inconformismo.
    Mas as diferenças na morte não ficam por aqui. Muitos são também os que caminham para a morte abandonados e desprezados pelos seus próprios familiares. Tal como há os que, nos momentos de dor e sofrimento e até ao último suspiro não deixam de receber amor e carinho dos que lhes são mais próximos.
    E outros morrem em situação de completo abandono, sós na sua dor e no seu sofrimento (ao que se sabe, como qualquer elefante).
    Penso pois que também na morte somos diferentes.
    Tudo o resto, tudo o que tem a ver com cerimónias fúnebres, com mais ou menos ornamento e com mais ou menos opulência, em nada contribui para que a morte nos distinga.
    Este é o meu ponto de vista. Mas outros pensarão de forma diferente.
    Não foi, neste contexto, como se percebe, que surgiu a resposta do protagonista da sua "história"!

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