"KINGUILAS": BANCOS DE CRÉDITOS FÁCEIS.
A expressão Kinguila, em Kimbundo retrata “alguém que está a espera de algo”. Mas no caso que interessa identifica de forma genérica os vendedores de rua engajados no comércio do dólar. O surgimento das pessoas que exercem este trabalho iniciou em Luanda, a partir do final dos anos 80, quando começaram a proliferar pelas esquinas da cidade grupos de mulheres e Homens envolvidos na troca de Kwanzas por dólares e vice – versa.
Apesar de não pagarem impostos ao Estado, estas vendedoras de “perna ao céu”, escreve o Semanário AGORA, são unânimes em afirmar que se as autoridades regulamentassem legalmente esta actividade e criassem as condições para que elas sejam protegidas dos marginais, contribuíram com uma taxa, desde que ela não fosse muito elevada.
“O Governo deve encarar a nossa actividade como as outras, porque se o maior é pagar imposto estamos dispostas a fazê-lo, mas precisamos que nos protejam contra os marginais, devido ao facto de sermos constantemente assaltadas nos nossos locais de venda”, disse Madalena Guimarães, que actua nos arredores do mercado dos congoleses. “Há até polícias e agentes da fiscalização que aproveitam-se da nossa condição para nos roubarem”, acrescentou.
Ao contrário das Mulheres os Homens que exercem esta actividade, vulgo doleiros, são os que menos sofrem com as extorsões perpetradas pelos agentes policiais e marginais. “Nós criamos todos os mecanismos possíveis para fugirmos dos indivíduos que se aproveitam da nossa condição para facturarem. A que mais tem resultado é de estarmos mais de três pessoas no mesmo local, e todos a cuidarem de todos para que deixemos de ser vítimas”, explicou o jovem Lopes da Silva, de 22 anos de idade, que compra e vende dólares no mercado de São Paulo.
“Outro método que usamos é o de aluguer de jovens que passam como nossos seguranças, eles, protegem-nos de maneira discreta durante o dia, e nós pagamos-lhes dois mil kwanzas, independentemente da quantidade de dinheiro que trocarmos.
De acordo com a interlocutora “já houve alturas em que ganhávamos muito dinheiro com a venda de dólares, mas actualmente há dias em que não conseguimos ganhar mais de Dez dólares. Em cada nota de 100 que vendemos, ganhamos apenas 200 kwanzas e existem clientes que por vezes, só aceitam pagar 100 Kz adicionais o que diminui a nossa margem de lucro”, disse uma kinguila.
Cada uma das pessoas que se dedica a este actividade é possuidora de uma estória triste ou alegre. Joana Silva, de 26 anos, diz que de tanto sofrer nas mãos dos batuqueiros, como se diz na gíria de Luanda, teve de parar de exercer a actividade e enveredar para o negócio de venda de roupas e calçados provenientes do Brasil.
As kinguilas, de um tempo a esta parte, passaram a ser consideradas “Bancos de Rua”, por concederem empréstimos com maior facilidade aos seus clientes, cobrando uma taxa de juros que varia em função da relação de confiança existente entre ambas as partes e da quantia em causa.
Para o economista Carlos Lopes, esta actividade é considerada ilegal e a legislação vigente no país tem restringido o seu exercício, já que esta é exclusivamente da responsabilidade dos Bancos comerciais e das casas de câmbio.
Explicou ainda que, o aparecimento das kinguilas é associado a escassez de moeda estrangeira resultante das restrições e condicionamentos impostos pelo regime centralizado de alocação de divisas, bem como as possibilidades daí resultantes de obtenção de lucros significativos por via de arbitragem efectuada entre os valores despendidos na aquisição da moeda estrangeira através dos canais oficiais e o valor real da moeda. O De realçar que o economista publicou o relatório de uma pesquisa feita em 2004, intitulada “Candongueiros, kinguilas, roboteiros e zungueiros, uma digressão pela economia informal de Luanda.
Amigo Renato,
ResponderEliminarFelicito-o por estas notícias. São factos da vida real num país que, como sabemos, viveu um longo período de instabilidade. E há-de tardar a normalizar os mercados e as regras habituais de funcionamento da economia. Mas há quem se tenha dedicado a estudar o caso Angolano onde o mercado paralelo, ou de conomia informal, terá sido um grande suporte da vida dos cidadãos, num período em que dificilmente funcionariam os tradicionais mecanismos de distribuição de bens essenciais.
Um abraço com renovados Votos de Festas Felizes.